16 de out. de 2020

Como escrever de forma eficiente


Você tem um problema com algo e isso precisa ser resolvido. Irei mostrar qual é o seu problema e como solucioná-lo
.  Isso, de acordo com o Professor Larry McEnerney da Universidade de Chicago, é como deveríamos iniciar qualquer tipo de escrita de forma a torná-la eficaz. 


É indiscutível o fato de que nos mais elevados níveis hierárquicos, principalmente nas profissões mais complexas (advocacia, medicina, academia, economia, negócios, etc), nada é mais necessário e importante do que a escrita. Aqueles que são extremamente capazes de pensar e ao mesmo tempo comunicar, são mais poderosos do que aqueles não o são. E poderosos no bom sentido; de serem capazes de realizar uma variedade de tarefas complexas de forma eficiente, que geram e entregam valor.  


Com isso em mente, vejamos o que o pude retirar das aulas do Professor McEnerney, que podem ser acompanhadas na integra através do Youtube.



1. Escrita eficiente = Valor

O pensamento é inseparável da escrita, e vice-versa, pois ao escrever o autor é obrigado a refletir sobre cada palavra para expressar num todo a sua mensagem. E uma vez que a mente é verbalmente estruturada, pensar e escrever se torna um desafio, pois só será útil o texto que compatibilizar a solução proposta pelo autor (conforme está estruturada em uma cadeia de raciocínio própria daquele que escreve), com o problema que o leitor busca resolver. 


O escritor que pretende puramente transmitir o seu pensamento, ou seus sentimentos, em nada agrega para o leitor que facilmente fica entediado com leituras que não lhe dizem respeito. A ideia, portanto, é resolver o problema do leitor, é mudar a sua visão de mundo, pois o texto eficiente é sempre aquele que entrega uma solução que até então era desconhecida ao receptor.


E ainda que seja comumente dito que para um bom texto é preciso persuasão, organização e clareza, de nada importar utilizar todas essas características e no final não resolver problema algum. É importante ter um texto coeso, organizado e claro? Claro que é! Mas nada disso importa se o texto não entregar o principal; VALOR!


2. O ensino tradicional cria péssimos escritores

Mesmo que a escola, a faculdade e a academia, gerem profissionais aos montes, o que justifica que apenas uma pequena parcela destes profissionais alcance o topo de suas carreiras? Parece haver algo de muito errado no método de ensino, e de fato é exatamente esse o grande problema. 


Durante o processo de aprendizagem, o aluno se tona especialista na entrega de textos para pessoas (professores) que são pagas para cuidar do conhecimento adquirido. Talvez o professor não fique satisfeito com algo, sinalize alguns erros e após as correções o aluno está aprovado. Nesta dinâmica, qual o valor que aluno gerou em seu texto? Zero. A visão de mundo do professor continua a mesma e, independentemente de uma nota máxima e alguns elogios, lembre-se que o professor é pago para ler aquilo.


Já no mundo real, a lógica se inverte. Ninguém sai por aí com um anúncio do tipo "tome aqui uma nota de X e leia esse texto interessante que acabei de criar sobre determinado assunto". É justamente o contrário; é o leitor que demanda e paga por textos capazes de modificar a sua visão de mundo! Quanto maior a eficácia da escrita do profissional, maior o valor entregue, e, por consequência, maior será o seu sucesso. 


Passamos por todo o processo de aprendizagem tratando a escrita de forma contrária ao seu propósito no mundo real/prático. Não à toa, temos aos montes profissionais que penam mesmo nas atividades mais simples de seus ofícios, pelo simples fato de não saberem como entregar valor através da escrita, pois foram condicionados a entrega de resumos e meras opiniões sobre um assunto.


3. Conheça o leitor

Você tem um problema do qual tenho uma solução, portanto me pague X e obtenha meu texto sobre. Todo dia essa proposta é feita por aquele que antes mesmo de escrever já conhece bem o seu leitor, e sabe qual a solução para um determinado problema. Tudo bem se você gosta de escrever para si, como um hobby. Mas para colocar comida na mesa, é preciso entregar valor para o leitor, e isso é feito através do email trocado com o cliente, do relatório entregue ao chefe, da mensagem no whatsapp com o colega de trabalho e tudo o mais que lhe demandar um conjunto de informações em escrito.


O texto de uma peça processual que é endereçada ao juiz, não pode ser o mesmo texto endereçado ao cliente que lhe pagou para resolver um problema. O texto para uma publicação em uma revista científica, não pode ser o mesmo utilizado para apresentar soluções ao público mais leigo. A solução vendida em um livro (instrução/entretenimento), não se confunde com a solução apresentada em um artigo de jornal (informacional). Dessa forma, é necessário compatibilizar a escrita de acordo com a demanda do leitor. Para tanto, conheça o leitor e identifique o problema a ser atacado


4. Causar tensão nos textos é um ótimo exercício

A tensão sempre prende o leitor, pois cria nele uma expectativa de que algo de valor será elaborado no texto. Palavras adversativas, que são utilizadas para interligar duas orações, expressando uma ideia de contraste ou compensação, são ótimas neste sentido. Exemplos:


- Mas

- Apesar

- Contudo

- Entretanto

- No entanto

- Todavia


Essas palavras, entre outras, criam uma instabilidade no leitor, o que lhe faz tomar a leitura com um maior engajamento. O escritor que entrega valor sabe muito bem como utilizar tais palavras, principalmente no início de texto. Mais um exemplo:


Ao verificar as soluções oferecidas no mercado, foi possível constatar que, apesar de uma grande aceitação, essas soluções são ineficientes na maioria dos casos. Apesar destas descobertas, nada impede que um avanço técnico seja obtido. Aqui está o problema.... e aqui está uma forma mais eficaz de resolvê-lo...


Além das conjunções adversativas, existem palavras utilizadas especificamente dentro de um campo de estudo que, apesar de serem facilmente assimiladas com uma ideia geral entre aqueles que atuam na respectiva área, podem parecerem confusas para quem é de fora. E aí voltamos a questão da adequação. Porém, é de suma importância destacar o papel valorativo exercido por estas palavras singulares. 


Um advogado que, por exemplo, informa para o cliente que o andamento do seu processo está assegurado pelo due process of law, nada diz/resolve para o cliente. Valioso seria, portanto, informar que o andamento do processo não será prejudicado, em virtude do devido processo legal, onde a lei determina que os juízes tomem a decisão mais adequada, e ainda que a decisão não seja favorável, restará outras possibilidades de solucionar o problema, pois a lei também estabelece que certos recursos e procedimentos poderão ser adotados.


Exercitar o devido emprego das palavras peculiares à sua profissão, é também uma forma de enriquecer o contato do leitor com o texto, é tonar a escrita eficiente.


Em resumo, escrever de forma eficiente é saber entregar valor; é fazer da escrita uma ferramenta capaz solucionar problemas reais. Guarde isso para sempre!

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