15 de jul. de 2018

O Príncipe - Maquiavel


Nicolau Maquiavel, o italiano nascido em meio ao século XV, vivenciou o período Renascentista onde a Europa pungia de transformações culturais, sociais, econômicas, politicas e religiosas. No meio de tamanha instabilidade, Maquiavel se tornou um dos principais intelectuais do seu tempo através da obra O Príncipe, considerada um divisor de águas na historia do pensamento político.

Na clássica obra de Maquiavel, O Príncipe, fica nítido a clareza de percepção do autor em relação à análise das sociedades, seus conflitos e suas transformações pela ótica da entidade do “príncipe”, que, na sua concepção, é a principal representação de poder (político) por trás do estado. Dito isto, a teoria política apresentada por Maquiavel, ainda no século XVI, continua persistente até os dias atuais, principalmente no que tange a distinção feita entre dois grupos sociais: o povo e seus governantes. Com a intenção de aconselhar o segundo grupo, o pensamento de Maquiavel é geralmente confundido como imoral, desprovido de valor ou antiético, dar-se aí o motivo pelo qual o termo “maquiavélico” ainda é utilizado, erroneamente, de forma pejorativa.

É importante salientar que o objetivo de Maquiavel não é o de criar governantes más, impiedosos e opressores, como a posteriori acreditaram os ingleses ao cunhar a expressão Old Nick para se referir ao Diabo, dada a fama de Niccolò (Fischer, 2000). Na verdade, a síntese de seu trabalho está no sentido de apresentar a natureza humana como ela é em meio à política (realpolitik). Maquiavel quebra o paradigma de que o homem é um ser feito para viver bem em sociedade, ao observar que é da própria natureza humana tender à desunião, ao conflito de interesses e à busca pelo poder. 

Maquiavel inicia sua obra realizando um inquérito ao analisar uma série de diferentes tipos de principados ao mesmo tempo em que fornece diversas orientações para que um príncipe conquiste e perpetue seu poder sobre um estado. Em uma memorável passagem Maquiavel aconselha que ao tomar um Estado, o conquistador deva ponderar que violências precisam ser infligidas e praticá-las todas de uma vez, para assim tranquilizar o povo e ganhar seu apoio. Enquanto aquele conquistador que fizer o contrário, ao praticar violência de tempos em tempos, será visto como um tirano e jamais ganhará a confiança do povo.

Maquiavel O Príncipe
Estátua de Nicolau Maquiavel na Galleria Degli Uffizi, Florença (Imagem: Reprodução/Internet)
Na segunda metade de O Príncipe, Maquiavel discorre sobre aquilo que parece ser seu principal objetivo: das virtudes necessárias ao príncipe e os vícios que este deve evitar para manter-se no poder. Em uma de suas mais famosas citações, Maquiavel explana que um governante deve inspirar ao mesmo tempo amor e ódio, mas dada a dificuldade de inspirar e manter ambos os sentimentos, é preferível do ponto de vista da arte de governar ser temido do que amado, “porque o amor é mantido por um vínculo de reconhecimento, mas, como os homens são maus, se aproveitam da primeira ocasião para rompê-lo em benefício próprio, ao passo que o temor é mantido pelo medo da punição, o qual não esmorece nunca”. 

Dentre outras contribuições de Maquiavel em sua teoria de estado, destaca-se também a importância da autonomia de um príncipe para que este exerça o poder e o domínio sobre seu povo com soberania e autoridade. Em exemplo, Maquiavel é a favor da dissociação entre o poder político e a moral/ética religiosa e da criação de milícias formada pelos próprios membros de um estado para – em tempos de guerra – o principado/estado não ficar a mercê de exércitos estrangeiros e/ou mercenários.

Maquiavel finaliza sua obra ao concluir que um governante não obtém o sucesso ou o fracasso mediante sorte ou segundo a vontade de Deus (fortuna). O fator determinante na verdade dar-se pela habilidade do mesmo agir da melhor forma possível mediante as circunstâncias (virtù). Um príncipe esclarecido e virtuoso é aquele que se aproveita das ocasiões para sempre buscar tomar decisões corretas, com a finalidade máxima de determinar os rumos da historia. Este determinismo que Maquiavel observa, combinado a necessidade de primeiramente buscar-se uma estabilidade social para garantir também uma estabilidade política, cria todo um novo conceito de poder político e de estado, que como dito inicialmente, continua influente até os dias atuais.

Dada a breve observação feita aqui, podemos concluir que O Príncipe se constitui de fato como uma obra inovadora (para seu tempo) no que se propôs a tratar: o pensamento político moderno. Até então, nenhum outro filosofo ou cientista político teve o ímpeto de investigar as sociedades e seus conflitos como Maquiavel o fez. O pensamento teocrático de que governar seria uma espécie de presente divino foi perdendo sua força ao passo que abria espaço para o surgimento de “grandes” governantes e a fundação de novos estados nacionais, tudo graças às contribuições de Maquiavel, e isso é que o torna um dos maiores filósofos de seu tempo, sendo considerado até mesmo como o pai da filosofia política orientada pela prática e experiência concreta da arte de governar.

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11 de jul. de 2018

Quem é Jordan Peterson?

Jordan Peterson, autor do best-seller internacional "12 Regras Para a Vida: Um Antídoto Contra o Caos". (Jake Stangel)
Acredito que fui introduzido ao trabalho do Jordan B. Peterson via YouTube, mais especificamente em sua entrevista à emissora britânica Channel 4, em que a entrevistadora Cathy Newman tenta a todo momento desvirtuar o debate e assim caracterizar Peterson como um sujeito extremo por ser contra sua orientação ideológica. Com a maior paciência do mundo, usando dados e argumentos embasados em estudos acadêmicos, Peterson devasta todas as intenções de Newman, demonstrando assim sua habilidade de elevar um debate presunçoso a outro nível, coisa rara nos dias de hoje.

Graças ao não recorte da emissora, que talvez não se deu conta do que realmente aconteceu, a entrevista chamou muita atenção para Peterson, registrando milhões de visualizações desde o dia em que foi ao ar em janeiro e até se tornou alvo de memes, como a frase So You're Saying (“Então você está dizendo...”) repetida diversas vezes pela apresentadora Cathy Newman. 

Confira a seguir um trecho da tal entrevista (se inglês não for problema, confira na íntegra aqui): 


Mas afinal, quem é Jordan Peterson?

Jordan B. Peterson é professor de psicologia da Universidade de Toronto, especializado no estudo da psicologia da anormalidade, social e pessoal, com particular interesse na crença ideológica e na psicologia da religião, tendo como principais influências as obras do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, e do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Baseado nesses estudos Peterson publicou Maps of Meaning – The Architeture of Belief (Mapas de Sentido – A Arquitetura da Crença - 1999) e recentemente lançou seu segundo livro 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos (12 Regras Para A Vida: Um Antídoto Para O Caos - 2018) que acaba de chegar ao Brasil pela editora Alta Books.

Até a entrevista comentada acima, Peterson levava a típica vida de um acadêmico. Em 2013 o psicólogo resolveu gravar suas aulas para publicá-las via YouTube e desde então vem acumulando milhares de visualizações e seguidores. O sucesso exponencial de seu alcance veio com o fato de que em 2016 surgiu no Canadá um projeto de lei (Bill C-16) que criminalizava o “incorreto” uso de pronomes para com pessoas transexuais. Peterson se viu obrigado a criticar tal lei (aprovada em outubro de 2016) que vai contra o princípio da livre expressão, um dos pilares de qualquer sociedade democrática. 

Pela primeira vez na história do país o estado sanciona uma lei que fere a liberdade de expressão, impondo o uso de determinadas palavras, para designar pessoas. Peterson nota que tal lei é um traço comum de governos totalitários, ou seja, é como se o professor estivesse vivenciando o mesmo dilema de Winston Smith em “1984” de George Orwell, onde o governo totalitário utilizada do controle linguístico “novilíngua” para coagir e limitar o pensamento das pessoas. Peterson ganhou notoriedade, atraindo até mesmo certa cobertura midiática, através de uma série de vídeos críticos à lei C-16

O caso Lindsay Shepherd

Caso Lindsey Shepherd
 Lindsay Shepherd, professora assistente envolvida em polêmica com a Wilfrid Laurier University. (Mathew Mccarthy)
No final de 2017, Lindsay Shepherd, professora assistente da Wilfrid Laurier University, foi advertida pela instituição por simplesmente promover um debate entre alunos (detalhe: a turma era do curso de comunicação) sobre o uso de pronomes de gênero neutro. Lindsey mostrou à turma um vídeo com o debate entre Jordan Peterson e um defensor do "politicamente correto" uso dos pronomes para designar cada identificação de gênero. Alguns alunos sentiram-se incomodados com a proposta da professora assistente, e por ignorância ideológica, a acusaram de criar um ambiente desconfortável e preconceituoso entre a turma. Lindsey foi chamada pela direção da universidade para esclarecer o ocorrido, mas na verdade foi coagida pela instituição ao receber um advertência injusta. Mas ninguém contava que Lindsey, ciente do que poderia ocorrer, gravaria toda a conversa e que posteriormente divulgaria para todo o mundo o que estava ocorrendo nas universidades do Canadá, exemplo concreto do que se passa na grande maioria das instituições de ensino em todo o mundo. Recentemente Lindsay Shepherd ingressou na justiça canadense contra os membros da Wilfrid Laurier University que a coagiram (clique para conferir na íntegra a gravação feita por Lindsay Shepherd, em inglês).

Porta voz da resistência libertária

Foi então através do caso Lindsay Shepherd que Jordan Peterson adquiriu ainda mais notoriedade o que proporcionou convites em massa da mídia para escutá-lo, incluindo o do canal Channel 4 que rendeu a famosa entrevista já mencionada. Foi através da defesa de sua liberdade que Peterson ganhou o mundo, não deixando de atrair obviamente várias controvérsias, o que o torna alvo de toda a militância dos pós-modernistas. Sua forma prática de abordar os mais variados assuntos e a incrível habilidade de transformar qualquer problema em um processo de diálogo, faz de Peterson um exímio combatente na guerra cultural. 

Todas as discussões em que esteve envolvido recentemente, abriu as portas para o lançamento do seu livro 12 Regras Para A Vida: Um Antídoto Para O Caos, que apesar da enumeração no título, Peterson mostra que a principal regra para uma vida plena se baseia no fato de que um indivíduo deve primeiramente possuir coragem para tomar as rédeas de sua própria vida, para só depois pensar em assumir responsabilidade maiores (como mudar o mundo), coisa que os millennials não sabem fazer e que por isso caem nos contos da carochinha de ideologias de esquerda (inclusive já discutimos sobre no post passado, clique para acessar) que pretendem dominá-los e assim transformá-los em massa de militância. Uma vida regrada não representa exatamente um ideal libertário, mas é somente através do controle de nossas próprias vidas que nos tornamos livres dos grilhões impostos por terceiros. 

Há ainda vários detalhes sobre Peterson que gostaria de tratar aqui, mas deixo para uma outra oportunidade, pois pretendo logo breve trazer ao blog a resenha de 12 Regras Para A Vida: Um Antídoto Para o Caos.

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