9 de nov. de 2019

Pensar de outra forma é a pretensão de conhecimento


Enquanto o direito à vida/propriedade/liberdade é facilmente relativizado, o comando segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado deve ser interpretado por sua literalidade. É o que diz os deuses do STF e os muitos constitucionalistas que dominaram o direito em um banco da academia ou através das redes sociais. Falando em constituição, que pedaço de papel magnífico! Reúne os mais valiosos preceitos de uma casta que se julga capaz de resolver todos os problemas da sociedade na base do monopólio do uso da força, do controle e do roubo legalizado. Separado da ética e da moral, o próprio controle fez brotar o nazismo, dentre outras inúmeras arbitrariedades. Porém, parece que esquecemos ou ninguém aprendeu direito.

Se o legal do estado democrático era deixar a garantia dos direitos humanos/fundamentais a cargo do aparato estatal, agora a tese inverte-se completamente, uma vez que vamos deixar de punir aqueles com condições de recorrer até a última instância, tais como homicidas, feminicidas, agressores de mulheres e indefesos, chefes do crime organizado, corruptos e toda uma série de animais que deveriam viver reclusos, mas que, apesar de condenados, seguiram livres sobre a égide da constituição até que seus crimes prescrevam. 

O país que beira um milhão de homicídios nas últimas duas décadas e detém os maiores esquemas de corrupção da humanidade agora inova com suas peças teatrais que fingem julgar nos tribunais gente da pior espécie que por azar caiu nas graças de um inquérito. Quem é bom de imaginação - para acatar o pedaço de papel é preciso muita - faça a caridade de criar uma desculpa para as vítimas e familiares que lamentam tamanha impunidade.

Melhor. Você que idolatra o estado constitucional com tanta disposição, continue, se entregue por completo, esbanje toda essa soberba e mau-caratismo político como quiser, MAS FAZ O FAVOR DE NÃO MISTURAR AS COISAS! O Direito surge de uma ordem espontânea tal qual a língua e o comércio. É fruto de infinitas interações voluntárias no decorrer da história. Já aquilo imposto a um grupo de indivíduos sem o seu consenso, é pura servidão.

Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão.

15 de ago. de 2019

A Vida Intelectual - A.-D. Sertillanges

A Vida Intelectual - A.-D. Sertillanges

É indescritível o impacto pessoal, profissional e espiritual, pós leitura de A Vida Intelectual. Em sua obra, Padre Sertillanges percorre de forma maestra os ensinamentos deixados por São Tomás de Aquino para aqueles que consagram sua vida na busca pela verdade. O trabalho de um consagrado (seja ele um jovem estudante, um dito cientista, ou até mesmo um gênio) requer sacrifícios e virtudes que vão além da superficialidade do cotidiano mundano. 

A receita proposta pelo Doutor Angélico é necessariamente prescrita para a alma, assim interpreta Sertillanges, que descreve o estado de espírito essencial do intelectual que produz, não para o sucesso de uma vida, mas para o que é eterno. A solidão, o comprometimento com o trabalho e a simplificação dos estudos, constituem a oração basilar da vida intelectual que, ao produzir, oferta sua contribuição na obra eterna do bem, do que é belo, e acima de tudo: do que é verdadeiro! 


A perturbação das ideias em nosso tempo é um reflexo do quanto a humanidade se afastou da verdade no campo intelectual. O sofrimento interno e externo é o miserável preço que pagamos distante da mais alta ordem. Daí que o método de estudo existencialmente vazio imposto aos jovens de hoje será o prejuízo nas ciências do amanhã.

1. A vocação intelectual

O intelectual é um consagrado: falar de vocação é referir-se àqueles que pretendem fazer do trabalho intelectual sua própria vida, tanto os que têm todo seu tempo para dedicar aos estudos, como os que, empenhados em suas ocupações profissionais, reservam para si o desenvolvimento profundo do espirito. Profundo, pois, uma vocação não se satisfaz com vagas leituras e pequenos trabalhos dispersos. Exige penetração e continuidade, um esforço metódico, que vise uma plenitude que corresponda ao apelo espírito. 

Não é preciso ter faculdades extraordinárias para realizar uma obra; basta uma simples superioridade; o resto é dado pela energia e por sua judiciosa aplicação. E isso vale especialmente para aqueles que sabem que dispõem apenas de uma parte de sua vida, a menor, para se dedicar aos trabalhos da inteligência. Esses devem, mais do que os outros, ser consagrados. O que não podem distribuir ao longo de toda a vida terão que reunir em um espaço limitado pela carreira.

Sobre solidão: o intelectual consagrado tem como uma de suas características, o fato de não poder ser um homem isolado. O isolamento é inumado e trabalhar humanamente requer o trabalho com o sentimento do homem, de suas necessidades, de suas grandezas, da solidariedade que nos une em uma vida estreitamente comum. 

2. As virtudes de um intelectual 

A estudiosidade: como virtude própria do homem de estudos, São Tomás submetia a estudiosidade à temperança moderadora, para indicar que o saber em si mesmo é sempre bem-vindo, mas que a constituição da vida pede-nos temperar, ou seja, adaptar as circunstâncias com o fito de evitar o excesso.  Não pode o estudioso deixar-se levar pela negligência, assim como deve evitar acima de tudo a curiosidade vã, pois estudar tanto que esqueça de si mesmo e que, de tão concentrado nos objetos de estudo, se negligencie o hospede interior, é um abuso e uma trapaça. Supor que assim haverá maior progresso e que se produzirá mais é achar que o riacho fluirá melhor se lhe secarmos a fonte.

A disciplina do corpo: o espirito de cada um de nós só se comunica com a verdade e consigo mesmo através do corpo. Portanto, é virtuoso o intelectual que não se envergonha de ter cuidados com a saúde. Se as suas ações, por contrário, prejudicam sua saúde, isso é tentar a Deus gravemente. A doença é uma grave inferioridade que limita o trabalho intelectual e atua diretamente sobre a personalidade de um homem.

a) Não despreze a higiene; pois ela enriquecerá sua filosofia. 
b) Não durma muito, nem pouco; muito sono torna o sangue e o pensamento pesados, gordurosos e espessos. Pouco sono torna-o suscetível a prolongar e aumentar perigosamente as excitações do trabalho, pois quem pouco dorme, nem descansa, nem trabalha.
c) Elimine os vícios: um amigo do prazer é um inimigo do próprio corpo e logo se torna um inimigo da própria alma. Obedeça a carne e estará se tornando carne, e o que preciso é torna-se espírito. 

3. A organização da vida

Para que tudo no intelectual esteja voltado para o trabalho, não basta a organização interior, definir uma vocação e administrar suas forças: é preciso também ordenar a sua vida, no quadro em que ela se relaciona, nas suas obrigações, nas suas vizinhanças, no seu cenário.

Simplifique: uma jornada que por si já é difícil, não pode ser sobrecarregada com muita bagagem. Para dar hospitalidade à ciência, não são necessários moveis raros, nem numerosos empregados domésticos. Muita paz, um pouco de beleza, certas comodidades que economizam tempo é tudo que se precisa.

Reduza a vida social: a vida mundana é fatal para o intelectual. Quando pensamos em um gênio, não o imaginamos num jantar. 

O intelectual é um consagrado que não se dispersa em futilidades. O trabalho e suas condições, eis tudo. Antes formar uma biblioteca, fazer uma viagem instrumentava, audições musicais que revigoram a inspiração, do que qualquer ninharia estranha ao trabalho.

Reduza a matéria: se o tempo gasto com uma outra profissão não favorece boas horas de estudas, reduza ao mínimo a matéria, alivie e liberte o espirito.

4. Sobre guardar a solidão

A solidão permite-lhe estar em contato consigo mesmo. Como ensina São Tomás, seja lento para falar e lento para dirigir-se ao parlatório. Pague sua cortesia para com todos o direito de só frequentar verdadeiramente aqueles cujo convívio é proveitoso. Evite, mesmo esses, a excessiva familiaridade que apequena e desorienta. Não corra atrás das novidades que ocupam o espírito em vão. Não se envolva com ações e conversas seculares, sem dimensão moral ou intelectual.

O retiro é o laboratório do espirito; a solidão interior e o silêncio são as suas assas. Todas os grandes autores pararam seu tributo ao isolamento, à vida silenciosa, à noite. Longe da balburdia das ruas, quando a paz estabelece a ordem dos pensamentos, dos sentimentos, das investigações, você capaz de reunir, para depois criar, está exatamente no umbral da obra.

Guardar a solidão é saber tirar dela as suas vantagens, não podendo o intelectual esquecer da temperança, pois solidão em excesso empobrece. Portanto busque cultivar as relações necessárias. Na medida em que podemos escolher, devemos organizar nossa vida de modo a estar tanto quanto possível em contato com pessoas superiores.

5. O tempo do trabalho intelectual

Sertillanges dedica todo um capítulo do livro para tratar da questão do tempo necessário ao labor intelectual. Para o autor, o estudo quando tratado como uma espécie de oração, possuí uma grande vantagem. Pois, a oração é a expressão de um desejo interior, e quem deseja com grande vontade, a todo instante ora no sentido de obter a sua realização. Como a oração pode durar o tempo todo, já que é um desejo e o desejo permanece, por que o estudo não poderia durar o tempo todo, sendo também um desejo e apelo da verdade?

Assim, deve o intelectual compreender que a verdade está em todo lugar, e sendo assim, é preciso orientar suas ações no sentido de captar a essência daquilo que se apresenta em um fluxo contínuo. As ideias estão nos fatos, assim como nas conversas, nos acasos, nos espetáculos, nas visitas e passeios e até mesmo nas leituras mais banais. Tudo contem tesouros, porque tudo está em tudo. 

Um pensador é um filtro em que a passagem das verdades deixa a sua melhor substancia. Para filtrar, é preciso saber escutar e observar, e não esquecer dos propósitos do estudo. Já que a verdade está por toda parte, por que não estudar cada questão em contato com o que lhe está próximo? Tudo deve alimentar nossa especialidade. Tudo deve testemunhar a favor ou contra nossas teses. Ter sempre o pensamento atento, eis a oração, eis o grande segredo.

O trabalho noturno: o próprio sono é um trabalhador, um colaborador do trabalho diurno. Ainda que a solidão e a paz da noite sejam suas companheiras, não deve o estudante delas abusar. O descanso também guardas suas vantagens, pois com frequência respostas em forma de lampejos brotam em meio a sonolência, ou pela manhã, durante despertar. Ter sempre à mão um bloco de notas para guardar os resultados do trabalho exercido pelo sono para de imediato voltar ao seu encontro, é um preparo básico e funcional que todo estudante prático deve possuir.

Os momentos de plenitude: são os momentos consagrados ao trabalho propriamente dito, tempo que requer concentração e esforço pleno. Não há hora certa para o trabalho intelectual, pois cada estudante tem o seu tempo, e o melhor tempo é aquele que melhor lhe ajusta.  Definido esse momento, é preciso tudo prever, para que nada venha atrapalhar, dissipar, reduzir ou enfraquecer esse tempo precioso. Visando sua plenitude, exclua as preparações longínquas; tome todas as disposições uteis; saiba o que pretende fazer, reúna os matérias, as notas, os livros e não se perturbe com ninharias.

6. O espírito de trabalho

A concentração: Ordene seu trabalho para poder dedicar-se por inteiro a ele. Que cada tarefa absorva-o profundamente, como se fosse a única. Esse é o segredo de todos os grandes homens de ação. Os próprios gênios só foram grandes peça aplicação de toda a sua força no ponto que tinham decidido enfocar. Dirigir bem as investigações e centralizar bem os trabalhos é toda a arte dos grandes, é o que, a seu exemplo, cada um deve tentar fazer a fim de chegar ao limite de si mesmo.

A submissão a verdade: a verdade só se dá a quem já está despojado e muito decidido a dedicar-se unicamente a ela. A inteligência que não se entrega, vive num estado de ceticismo, é o cético está mal aparelhado para verdade. Eis o trabalho profundo: deixar-se penetrar pela verdade, submergir nela docemente, afogar-se; não mais pensar que pensamos, nem que existimos, nem que coisa alguma existe, exceto a própria verdade. Somente a verdade tem direito, e ela tem direito onde quer que se apresente. 


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As notas aqui utilizadas refletem diretamente aquilo que o autor do blog destaca da obra original durante a leitura da mesma, utilizando-se geralmente de citações diretas, indiretas e paráfrases, além de comentários pertinentes que podem ser retirados de outros trabalhos. As notas são criadas com o único intuito de fornecer um rápido acesso a consultas posteriores para estudo sobre o tema. Caso o leitor do blog tenha alguma dúvida ou gostaria de complementar algo, fique à vontade para deixar um comentário logo abaixo ou entre em contato mediante o instagram @waldeirmarques, ou email


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22 de fev. de 2019

Precisamos falar sobre sindicatos!


Uma adaptação do texto “O Mal dos Sindicatos no setor público e privado - por Walter Block

Aposto (seus impostos, risos) que o nobre leitor já tenha ouvido por aí algo no sentido de que “precisamos de sindicados, porque, sem eles, os empresários malvadões reduziriam os salários dos empregados a pó”.

Só que salários e condições de trabalho NÃO são definidas pelas empresas, mas sim pela receita marginal do trabalhador, do quão produtivo ele é. Cada empregado adicional na produção de um determinado bem aumenta o custo desta produção, logo, o salário do último empregado adicionado à produção jamais poderá ser superior à receita marginal oriunda de sua produtividade adicional. É isso ou a empresa terá um belo prejuízo. E olha que nem falamos ainda da teoria subjetiva do valor.  

O objetivo dos sindicatos é fazer com que as empresas paguem aos seus empregados um salário além daquilo que cada um agrega produtivamente (tudo isso em nome da não exploração pelos capitalistas). No curto prazo a ideia pode até colar, mas no longo prazo a empresa fecha e todos são demitidos. 

Se os defensores sindicalistas entendessem esses conceitos básicos de economia talvez não precisássemos desta conversa. Coloquemos então a questão de um modo mais fácil...

Como é que indústrias que jamais fizeram contato com sindicados (bancos, computação, finanças) pagam salários tão altos, excedendo a média dos salários daqueles setores terrivelmente sindicalizados? Ora, a mercê de porcos capitalistas como o Bill Gates, tecnólogos e cientistas da informação, empregados pela Microsoft, já não deviam estar mortos de tão explorados? A realidade mostra justamente o contrário.

O que dizer então de países onde o sindicalismo ocidental não tem vez (Hong Kong, Singapura, Japão) e ainda assim são poderosas forças econômicas, com padrões de vida de causar inveja a qualquer membro sindicalizado no resto do mundo?

Não precisamos ir mais longe. Para finalizar, nada melhor do que deixar a seguinte reflexão para desmitificar de vez a questão dos sindicatos: se a narrativa socialista diz que sindicatos são necessários para evitar a exploração capitalista, reconhecendo ainda o papel benevolente do Estado nas relações trabalhista com suas maravilhosas legislações pró-sindicalismo, POR QUE DIABOS EXISTEM SINDICATOS NO SETOR PÚBLICO?

É isso mesmo, existem organizações sindicais contra o governo! É como um socialismo dentro de outro socialismo. Nas sociedades que possuem um pouco de respeito pela propriedade privada e liberdade, dados indicam (aqui) que os sindicatos no setor privado tendem a desaparecerem. O problema restará justamente no lado do setor público, onde verifica-se a forte presença dessa atividade que nada mais fará além de subir os impostos na mesma proporção em que se aumentam os salários dos servidores públicos. E não se engane, o correio continuará prestando um péssimo serviço, assim como todas as outras repartições públicas. 

Use a razão. Se mesmo assim você permanecer firme quanto aos sindicatos, faça o favor de cair em contradição performática assim, sozinho. Ah! E não esqueça de tirar parte de sua renda para contribuir com o sindicato (isso se ele já não o tiver feito). 

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Leitura recomendada: Rumo a uma Sociedade Libertária - Walter Block
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